terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mini conto

Um título e ponto.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Livros

Ele estava acabando a “Insustentável leveza do ser”. Ótimo, agora sentia-se preparado para dar o troco naquela mulher com olhos belos e inúteis, que não viam mais as qualidades dele. Forte e sádio como um bom vencedor ele estava pronto para a briga. O que ele não contava é que ela recém tinha terminado um “Copo de cólera”. Bom para ela. Contra uma astuta e sabedora, ele não teria nehuma chance de argumentação. E os dois se encontraram. E começaram a discussão como se deve: falando alto, pensando baixo, respirando de vez em quando.
Mas eles não contavam que a vida não lê livros de traições. Quando perceberam, já era outro dia e o que era briga se transformou em lençóis desarrumados e pés escanteados para fora da cama. Para a “Insustentável leveza do ser”, não tem “Copo de cólera” que dê jeito.

Um casal melhor ainda

A distância entre eles era chata duas vezes. Porque, além de desagradável, era curta. E isso não contribuía para as promessas hetéreas de separarem-se até que o tempo desse seu tempo. Dessa maneira, viviam esbarrando-se em situações mais ou menos desafiadoras. Quando não se encontravam pessoalmente, trombavam amigos de amigos, fato que piora ainda mais as elocubrações e não dizeres.

Chegaram a pensar em se encontrar voluntariamente. Chegaram a quase gritar um pelo outro, como um bebê quando quer colo. Mas tinham a enfadonha empáfia de jovens que sabem das suas qualidades. Ela sabia que era incrível. Ele também. Como vemos, nada contribuía para que o ex casal desse um cabo nessa besteira que é fugir um do outro.

Até que um dia, a distância, que era chata, tornou-se insuportavelmente curta. Tão pequena que os corpos dos dois se tocaram. Talvez não mais por atração física, mas por proximidade de almas. E quando se tocaram, esqueceram de todos os pormenores e elucidações de outrora. Os dois finalmente acabariam com aquele afastamento besta.
Então, se abraçaram, entreolharam e sem dizer nada, decidiram que aquele distância chata não era coisa para pessoas legais. Viram que duas pessoas incríveis só poderiam formar um casal melhor ainda.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

assim ó

Poesia tem de ser curta.
Para que você leia, não disperse e
apenas curta.

O que eu não quero e o que eu quero

Não quero ser presunçoso,
nem erudito.
Às vezes, belicoso.
Mas nunca maldito.

Porque mal dizer não leva a nada.
É jogar palavra no vento
E para mim isso é piada
E piada eu nem tento.

Não quero agradar uns e outros.
Não há tempo pra isso.
Quero só libertar meu sufoco.
O que me faz ter tal ofício.

Quero ir e vir, como essas frases.
Sem tempo, sem direção.
Apenas como as coisas deveriam ser, fugazes.
Fugazes como foi aquela paixão.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Vaso

Uma vez plantei num vaso,
um vaso de flor única.
Um vaso com um único amor.

E eu que achava brega mandar flores,
criei uma cheia de amores.
Perfumada de apego.
E agora de dores.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Era uma boca.

Tão larga, que poderia comportar dois sorrisos. E comportou: porque nela couberam o prazer e a alegria dos dois. Aquela boca foi beijada, olhada, sentida como se fosse um país recebendo seus expatriados. Por ela passou não só saliva. Passaram sentimentos, vontades, senões.

Por aquela boca transpuseram-se virtudes, obstáculos, fez-se chover. Nela, displicentemente, foram depositadas confiança, alegria, euforia e, pouco depois, perdição.

Porque, um dia, aquela boca foi embora.

E além de perder-se o sorriso, perdeu-se a luz que aqueles dentes produziam. Partiu para o horizonte a beleza que fez aqueles momentos.
E a outra boca, confiante que estava, ficou só. Bem ela que esbanjou tanto. Que beijou e se anestesiou em movimentos vários, mas nunca calculados.

E foi por não calcular que o tombo dela foi tão sério. Tão sério que fez perceber como era ínfima.
Tão pequena que não agüentou a dor de ser solitária. Só aí viu o quanto precisava da outra. O quanto, sozinha, não era nada demais: era apenas uma boca.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O contrário

É fácil sofrer por amor.
O ruim é sofrer pelo contrário.
Desamor.
Amor invertido, sentimento salafrário.
Não vai e vem como o outro.
Ele só é: intermitente, plácido, independente.
Sofrer por amor é moleza.
Duro é o coração com desamor.
Esse é safado, não sente nada, não tem dor.
Amor é fofinho.
Desamor é uma mulher que anda decidida, sem olhar o caminho.
Desamor é sacanagem.
Mesmo porque falta sacanagem nele.
Esqueceu do passado, do sorriso, da pele.
Mas um dia o desamor ainda se dá mal.
Porque por mais que evite, ele tem amor.
É só tirar o prefixo.