sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

austríaco

Tenho um cachecol perene no carro.
Colorido, austríaco, pronto a ser enrolado.
Agora, o que me faz manter tal acessório, vivendo no sul do mundo?
Resignação.
Vai que um dia esfria e eu preciso.
Deve ser assim a vida. Melhor estar preparado para as suas voltas.
Vai que um dia ela te exige um cachecol.

Bicho estranho

A saudade é bicho estranho.
Vem quando está com fome,
Desaparece quando está com sede.
Volta quando bebeu demais.

Saudade, por que és tão inconstante?
Não seria mais fácil avisar o dia e hora em que chegas?

Assim, me preparava melhor para ti.
Te curtiria aos montes, esvaziaria a minha alma com toda dedicação.

Assim, aos sopetões, não ajudas.
E já que não colaboras, também não hei de colaborar contigo.

Me esqueça. Pelo menos até que você bata em você mesma.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

a gente

A gente se encontra
e parece que os sonhos já não são iguais.

E a gente se sorri, não sei se por medo, educação
ou por receio do jamais.

A gente se entreolha e os assuntos se atropelam.

A gente chega perto um do outro e o que se aproxima
são nossas faces rosadas de calor,
afinal, é do encontro delas que vive a nossa distância.

E, então, a gente se separa, porque afinal de contas, continua separado.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Poente posto, meu amor novo.
Amor por mim, amor sem rosto.
Novo.
De novo, sou eu comigo só.
Poente posto, nariz pra cima, sem dó.

Poente posto, o que me espera?
Se posto por mim, outra vez amor.
Será agora, será na primavera.

Poente posto, lua lá em cima.
eu volto a olhar para ela
e outra vez a sentir o clima:
calor gostoso.
Como devia ser e já não era.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Põe poente nesse poema
Termina logo esse texto.
Acaba logo essa palavra.
Enfia esse ponto no final.


Senão, a história não termina.
E sem fim, nenhuma história é verdadeira.
Põe poente nesse poema,
muda a direção e vai escrever uma crônica.


Assassina de uma vez a expressão.
Você está proibido de mais um verso.
Que essa redação já está enorme
e você sabe bem que ninguém tem paciência pra ler tanto.


Põe poente nesse poema.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

00

Participa de mim.
Nem que por meio segundo,
passa feito bala de festim.


Mareja minha vista,
mesmo que suas ondas sejam gordas,
mesmo que você não seja grande conquista.


Entra aqui dentro,
com medo da chuva ou não.
Não importa se tem vento ou se tem trovão.


Não vai, simplifica.
Olha mais um pouco.
Vai que você gosta e fica.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Espetáculo

Já fazia 12 horas em pé
e nada o convencia.
De que era hora de descansar até...
até que chegasse outro dia.


Não adiantou súplica nem pedido,
dali ele não saía.
Mesmo exposto, desprotegido,
ali era seu lugar, ali lhe pertencia.


Era o sol que só brilhava
e da noite esquecia.
Queria chamar atenção daquela moça
que se queimava e não percebia.


Até que a lua deu fim
à travessura que o sol fazia.
Entrou na sua frente, feito festim.
Fez parecer que o sol se escondia.


A moça furiosa olhou pra cima,
assustada, taquicardia.
Mas se maravilhou com o espetáculo
Que o sol, sem querer, a proporcionaria.


Era um eclipse, que beleza,
ela falou, em gritaria
E o sol feliz se convenceu
Que a moça era dele, que alegria.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

mar

Porque no seu nome tem mar, você é tão errante.
Porque no seu nome tem mar, você vive indo embora, como um marinheiro que abandona a terra por uns trocados.
Porque no seu nome tem mar, você me causa tanta ressaca.
Porque todos falam mar quando te chamam, você atende sempre com um sorriso doce de uma santa das águas.
Porque no seu nome tem mar eu não sei se vou ter você de novo. Porque as ondas do mar ninguém controla.
Nem eu, que naveguei tanto em você.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Tua

Minha dor era tua,
minha melancolia também.
Era a falta de uma resposta crua.
De saber que você quer, mas não vem.


Minha memória era tua.
Mesmo com meus pensamentos além.
É que eles viajaram, saíram à rua,
para ver se encontravam outro alguém.


Minha sombra era tua.
Como as outras coisas que só você tem.
Mas o sol teimou em virar lua.
E a sombra se aninhou, feito neném.


E agora, de quem é minha lembrança?
É tua, meu bem.
É certo, ela não te amansa.
Mas ainda assim ela é tua: tua e de mais ninguém.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Da teimosia

Sinto falta do teu abraço,
sinto falta da tua mão.
Quero de novo dividir teu espaço
e você está proibida de dizer não.


Saudade do teu cheiro
e isso me causa dor.
Quero tudo de novo.
E que seja agora, e que seja como for.


Sou assim e não mudo.
Não arredo o pé de você.
Se você acha isso absurdo
é porque ainda não aprendeu o que é querer.


Porque você é minha inspiração.
É o que me fez sofrer.
Você é o que move minhas horas
e sem minhas horas não quero viver.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Deixa

Deixa eu te fazer um carinho raro.
Deixa eu entrar no teu terreiro.
Mesmo que seja um gesto cada vez mais caro.
Um gesto cada vez menos corriqueiro.


Deixa eu te olhar com melancolia.
Deixa eu te tirar do papel.
Pra você sair da poesia.
Pra você entrar no meu céu.


Deixa eu te abraçar bem forte.
Deixa eu arrancar teu sorriso.
Para eu achar que tenho a sorte.
De habitar com você o teu paraíso.


Deixa eu exaltar a tua beleza.
E fingir que ela ainda cruza meu caminho.
Para que minha lembrança não morra de tristeza.
Para que meu peito não fique mais sozinho.


Deixa eu te olhar pela última vez.
E perceber que nada disso é verdade.
Que tudo entre a gente foi sordidez.
Que foi tudo fruto da nossa vaidade.


Deixa eu ir embora
E esquecer tudo o que foi.
Deixa, já está na hora.
De olhar seu pássaro e permitir que ele voe.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Eu vou

Eu vou te escrever uma serenata
Vou tirar meus versos do papel
E você vai me ouvir, sua ingrata.
Nem que você more lá no céu.


Eu vou contratar um bandoleiro
Colocar meu chapéu
E gritar que é de mim que você gosta
E gosta a granel.


Depois eu vou escalar as janelas
E invadir seu quarto
Vou arrombar sua porta
E você vai me ouvir, mesmo que torta.


E aí você vai perceber que também é minha
Que a solidão é coisa idiota
Que um sem o outro é errar a rota.


Que sem você, não sou eu
Que você sem mim, bem, você se deu mal.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

31

Não queria te encontrar, mas encontrei.
Não queria te amar de novo.
E, de novo, amei.

Não queria mostrar minhas fraquezas,
Mas errei.

Na vontade louca de te mostrar superioridade,
falhei.

Mas o que podia fazer?
Era você:
meu sonho, meu pesadelo,
minha rainha sem rei.

Pronto, não te procuro mais.
Mas isso eu não posso garantir, eu sei.

Afinal, não queria te encontrar, mas…