quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Era uma boca.

Tão larga, que poderia comportar dois sorrisos. E comportou: porque nela couberam o prazer e a alegria dos dois. Aquela boca foi beijada, olhada, sentida como se fosse um país recebendo seus expatriados. Por ela passou não só saliva. Passaram sentimentos, vontades, senões.

Por aquela boca transpuseram-se virtudes, obstáculos, fez-se chover. Nela, displicentemente, foram depositadas confiança, alegria, euforia e, pouco depois, perdição.

Porque, um dia, aquela boca foi embora.

E além de perder-se o sorriso, perdeu-se a luz que aqueles dentes produziam. Partiu para o horizonte a beleza que fez aqueles momentos.
E a outra boca, confiante que estava, ficou só. Bem ela que esbanjou tanto. Que beijou e se anestesiou em movimentos vários, mas nunca calculados.

E foi por não calcular que o tombo dela foi tão sério. Tão sério que fez perceber como era ínfima.
Tão pequena que não agüentou a dor de ser solitária. Só aí viu o quanto precisava da outra. O quanto, sozinha, não era nada demais: era apenas uma boca.

Nenhum comentário: