quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Eu te agradeço cada segundo de secura.
Cada momento de dor no peito.
E todas as teimosas lágrimas, uma a uma.

Eu te agradeço a barba crescida.
O estômago vazio
e a dor da partida.

Sem isso, eu não escreveria e se não escrevesse, não me libertaria.
Por isso, mais do que saudades, você me trouxe vontade.

E a vontade de escrever é a mais legítima que existe.
Porque não há nada mais honesto que colocar pra fora,
o que a vida empurrou goela adentro.

Sem mágoas, eu sinceramente te agradeço cada gota de tristeza.
Sem elas eu não teria motivo pra me debruçar no abismo.
E me jogar, ainda que sem leveza.

À noite

À noite, vejo um poeta partindo
Negro, solitário, macambuzo, apenas indo.
Andando, à favor do vento, não vai chorando,
não vai rindo, vai só pisando, ensaiando novas trovas,
lírico, indo, apenas indo.

À noite, vejo um tocador de banjo.
Parado no encontro de paredes, fantasia na cabeça,
E, antes que eu me esqueça,
Asas de anjo.

À noite, vejo um cocheiro cansado
Dando água ao seu cavalo,
Quando quem precisa de refresco é ele
Porque o animal merece, mas ele sim é vassalo.

À noite, vejo uma estrela procurando amigas
Que só porque não brilham tanto
Só porque têm menos encanto,
Fogem da cadente, as raparigas.

Enfim, à noite, vejo tantas coisas que até me confundo.
Mas o certo é que vejo toda sorte de belezas e tristezas
De tudo o que rege este mundo.

Você eu

Você sou eu mulher.
Mesmas atitudes,
Mesmas crenças,
Reações iguais.
Você é louca, eu não sou normal.
Você é expressiva, e em mim isso é natural.
Você não quer outra coisa.
E eu também, igual.
Por isso é tão ruim afastar-se.
Quando me afasto de você, fico longe de mim.
Porque você sou eu, mulher.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Serventia

Para que serve a poesia?
Para salvar quem não tem dinheiro para terapia.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

E depois de tudo

E depois de tudo ele saiu da rua.
Largou os bares.
Vestiu a tristeza crua.

Bem quando achavam que ia brilhar aquela figura altiva,
o figura desaparecia
E aquela alma viva
fazia que morria.

Até que um dia, deu-se o estalo:
olhou pro alto e viu um halo.
Não era do sol que brilhava e aquecia
Era da lua, que gritava e o chamava de volta à fantasia.

Muitos acham que assim ele voltou à boemia.

Mas outros sabem que à noite ele já não se divertia.
Porque ao voltar pra casa, quando a lua jazia,
ele recomeçava aos prantos o martítrio que dele não desistia.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Flor

Ó flor do meu jardim, como éres dengosa.
Por onde sai tanto brilho, fazendo-lhe indecorosa?
Éres especial, minha rosa.
Majestade no meu reino,
éres preciosa.
Quanto vejo-te, já sabes, fico assim todo prosa.
Esperando-te na minha solidão. Assombrosa.

Sorriso,

declaração do teu rosto.
Preciso do teu sorriso pra mim.
Pra eu amar, admirar
e de vez em quando espreitar.
Assim, quieto como a minha respiração
de quando me deleito em você
E me acabo em alegria.

Pequena poesia das coisas

As coisas não são fáceis.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Um belo soneto

Qualquer dia te escrevo um soneto.
A com B, B com A formando bela poesia, num livreto.
Mas enquanto esse dia não chega,
vou fazendo minha poesia livre, imprecisa, pelega.
Mesmo assim, sigo e te prometo
que quando te dedicar este belo soneto
Você vai se deliciar, sorrir, brilhar, vai estar pega.

Sabor

Para você não rimo palavras,
rimo ritmos que dançam ao sabor das horas.
Pela manhã, vão bem rápido.
Ao sol no alto, se rebuliçam,
à tarde, se aquecem
e ao anoitecer não esparsam.

Eles só calam nas madrugadas dormidas.
Porque acordado, todo ritmo se mistura.
E aí não tem cansaço, sono ou prazer: nada os segura.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

00

Desculpe o lapso criativo, mas você é linda.
Não pelos teus olhos, cabelos e vai-e-vem,
mas pela tua graça que nunca finda.
Por isso, eu não canso de te olhar
Afinal, quando te miro, procuro a mim mesmo
num futuro que a gente habita junto, nunca a esmo.

Por isso, mulher linda,
eu digo que você é tanto, e só pode ser, com essa graça que sempre vinga.
Porque por mais que eu passe horas te negando ao luar,
Eu nem me esforço para saber que te amo, ainda.