terça-feira, 18 de agosto de 2009

8

Descreveu um oito no papel

As linhas se cruzando desgraçadamente tortas.

Escreveu o número umas, duas, dízimas vezes.

A confusão canhota ganhou forma de um encontro gordo, forte, preto.

Olhou firme pro negativo do grafite com o branco do sulfite.

Pegou a folha com as duas mãos.

Virou para a horizontal e sorriu

Era um belo infinito aquele oito.

Fotofobia

Abriu os olhos numa sala escura
Andou tropeçando até desencontrar a saída
Tateou o chão depois dos pés perderem o piso
De repente, só pisava no ar rarefeito.

Caiu fitando o escuro.

Teve acesso de labirintite.

Acordou, porque, às vezes, dormir é difícil.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

areia

Fez-se areia

A aparição, o olhar

Quando o arrepio rateia

É porque fez-se areia


O canto do canino que aparece

No sorriso largo

Solto em longa prece

Quando vira rara ceia

É porque, desculpe,

Fez-se areia


Ao entrar

Com dificuldade

o sangue que não passa

Como quando entope a veia

Não tem jeito

Virou grão

Olha a areia


Se ao girar o vestido

Flores estampadas de lá pra cá

o olho não rabeia

não adianta fingir

sem choro, vela, canto de sereia

você já sabe o que se fez

virou praia,

é areia.

terça-feira, 28 de julho de 2009

você sabe

Entre a gente
Você sabe que não é bem assim
Que na verdade você é minha
Que nasceu pra mim


A gente sabe do tempo
Só entre nós dois
Deixar assim agora
Pra viver depois


Nada a ver com os outros
Não têm nada com isso
O mundo sabe pouco
Nem imagina nosso compromisso


Porque isso sim é coisa séria
Pacto de sangue, ninguém mente
Você, eu, lembra?
Só aqui entre a gente.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

vie

A fase entre os 15 e os 70 é complicada mesmo.
O resto é tranquilo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Nada, nada

Não sentia fome
Um pouquinho de frio
Tinha quase nada
Mal conheceu arrepio

Não experimentou calor
Nunca um trupicão
Nada ali parava
Tinha preguiça, sem fingir que não

Brilho nos olhos?
Nada que se revele
Mais cortante que navalha
Assim era a sua pele

Não arrepiava
Nem dizia que sim
Não saia, não voltava
Eu não queria isso pra mim

Não respirava
Nunca suspirou
Não entrava em paranóia
Isso nunca importou

Como um andarilho candeirante
Vivia desse jeito
Não se mexia, não ia
Viveu sem ter peito.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Começo sem fim

Não sei se te respondo à altura
Portanto, perdoa se não resolver minha agrura
Mas te escrevo de peito aberto
Peito pulando alto
Mesmo que o texto soe deserto

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