terça-feira, 18 de agosto de 2009

8

Descreveu um oito no papel

As linhas se cruzando desgraçadamente tortas.

Escreveu o número umas, duas, dízimas vezes.

A confusão canhota ganhou forma de um encontro gordo, forte, preto.

Olhou firme pro negativo do grafite com o branco do sulfite.

Pegou a folha com as duas mãos.

Virou para a horizontal e sorriu

Era um belo infinito aquele oito.

Fotofobia

Abriu os olhos numa sala escura
Andou tropeçando até desencontrar a saída
Tateou o chão depois dos pés perderem o piso
De repente, só pisava no ar rarefeito.

Caiu fitando o escuro.

Teve acesso de labirintite.

Acordou, porque, às vezes, dormir é difícil.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

areia

Fez-se areia

A aparição, o olhar

Quando o arrepio rateia

É porque fez-se areia


O canto do canino que aparece

No sorriso largo

Solto em longa prece

Quando vira rara ceia

É porque, desculpe,

Fez-se areia


Ao entrar

Com dificuldade

o sangue que não passa

Como quando entope a veia

Não tem jeito

Virou grão

Olha a areia


Se ao girar o vestido

Flores estampadas de lá pra cá

o olho não rabeia

não adianta fingir

sem choro, vela, canto de sereia

você já sabe o que se fez

virou praia,

é areia.

terça-feira, 28 de julho de 2009

você sabe

Entre a gente
Você sabe que não é bem assim
Que na verdade você é minha
Que nasceu pra mim


A gente sabe do tempo
Só entre nós dois
Deixar assim agora
Pra viver depois


Nada a ver com os outros
Não têm nada com isso
O mundo sabe pouco
Nem imagina nosso compromisso


Porque isso sim é coisa séria
Pacto de sangue, ninguém mente
Você, eu, lembra?
Só aqui entre a gente.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

vie

A fase entre os 15 e os 70 é complicada mesmo.
O resto é tranquilo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Nada, nada

Não sentia fome
Um pouquinho de frio
Tinha quase nada
Mal conheceu arrepio

Não experimentou calor
Nunca um trupicão
Nada ali parava
Tinha preguiça, sem fingir que não

Brilho nos olhos?
Nada que se revele
Mais cortante que navalha
Assim era a sua pele

Não arrepiava
Nem dizia que sim
Não saia, não voltava
Eu não queria isso pra mim

Não respirava
Nunca suspirou
Não entrava em paranóia
Isso nunca importou

Como um andarilho candeirante
Vivia desse jeito
Não se mexia, não ia
Viveu sem ter peito.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Começo sem fim

Não sei se te respondo à altura
Portanto, perdoa se não resolver minha agrura
Mas te escrevo de peito aberto
Peito pulando alto
Mesmo que o texto soe deserto

..

quinta-feira, 18 de junho de 2009

mídia

Uma amiga estava num site gringo de poesias.
No site tinha um banner:
"Treate depression".
Haha

terça-feira, 16 de junho de 2009

time out

A vida é lá fora
Fora do avião
Na esteira de qualquer aeroporto
No quiosque da rodoviária-me vê um queijo no pão?

A vida é lá fora
Fora do peito que dói
Da dor que destrói
Far from what annoy

A vida é lá fora
Onde a gente nunca está
Onde uma vez você foi
Mas estava meio ocupado pra reparar

A vida é lá fora
Lá fora e pronto
Depois de chegar a um destino
E partir pra outro ponto.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Olha

Olha,
você é uma estúpida.
Você é uma menina, um saco plástico no vento.
Não junta lé com cré,
E desconhece razão.
Você é nem lá nem cá.
Uma coisa meio irritante que fica sorrindo.
Olha, você não vê nada.
Não entende lhufas.
Não faz por onde.
Você é uma coisa que fica incomodando.
Você não dá.
Não rola.
Nem vem.
Você perturba.
Olha, é, você, cacete.
Essa sua estupidez.
Olha, vê se escuta.
Você que vá embora,
É, vai embora.
Ei, onde você vai?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Cheiro

Cheiro doce
Gosto de caramelo
Sinestesia, profusão
Visão do céu, amarelo


Cheiro verde
Aromático
Estimulando toda parte,
vira policromático.


Cheiro fundo
Fumaça que não vela
Olhos brilhando
Aquarela

9

Ouço o disco novo, disco nada, baixei pro itunes, de uma banda que eu gosto muito. E as músicas são boas pacas. Rock chique, sem ser gay, nem de perto. Tem até uma música quase inteira instrumental, com uns elementos eletrônicos. Quase inteira instrumental, com uns elementos eletrônicos, porque no fim, lá pelo sétimo minuto, rola uma letra bem boa que diz no crepúsculo: Love like a Sunset! Coisa fina. Fina mesmo porque o disco tem só nove músicas. Nove. E os caras não lançavam nada há uns três anos. Pombas, faz mais. Fez nove, faz dez, pro número ficar redondo. Fez dez, faz onze, pra lembrar time de futebol. Não sou obrigado a ouvir só nove músicas boas. Imagina se o atacante do seu time fizesse nove gols a cada três anos. Não, nove golaços, de fazerem compilação no Youtube. Mas só nove. De que adianta? Neguinho ia ser mandado embora. Igual se o melhor chef da cidade resolvesse cozinhar nove pratos por mês. Ia morrer de fome, que ironia. Se fosse eu, fazia igual o Prince e gravava 90 músicas de uma vez. Depois ia só espalhando por um monte de discos. Pelo menos uns 10.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Caipira

“Limão tem sexo, sabia? Que cara é essa? Olha, caipirinha boa, só com limão fêmea, que é esse aqui com biquinho, ó. Acompanha: cada copo desse (e só desse, não vai me inventar de fazer em copo alto) leva um limão e meio. Você tem que massagear o limão, quer dizer, a limoa, haha, antes de cortar, que é para espalhar o sulco. E quando cortar, tem que tirar as pontas e a parte do meio, que são mais azedas. Que foi?
Em frente: coloca os pedaços da limoa no copo e soca. Agora, põe um saquinho e meio de aspartame (que açúcar é coisa de gordo). Filho, tá vendo aquela 51? Esquece, aquilo foi algum folgado que deixou aqui. Pega a Salineira ali. Não, não é cara: 20 reais a garrafa. Compra que vale a pena. Essa história de caipirinha ser feita com cahaça ruim é sacrilégio, coisa de são-paulino. Isso, derrama um pouquinho. Mistura. Agora o gelo: pega o gelo, pega o amassador. Põe o gelo na palma da mão. Bate. Vai, sem medo! Cuidado com o….Põe os pedaços do gelo no copo. Mistura de novo. Sim, demora pra fazer. Se quiser fazer em jarra, vai naqueles botecos que você frequenta.
Pega a Salineira de novo. Completa o copo. Mistura. Golinho. Pronto, quero ver aquela menina continuar te esnobando.”

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Recurso

Não sabia mais o que fazer para reconquistar aquela mulher.
Foi então que veio uma inspiração: parou em sua frente, disse que a amava e esticou seu dedo indicador até a testa dela.
Ao toque, parece que uma chave ligou: os olhos dela brilharam, a boca deu uma secada.
Até hoje, não entenderam se foi a beleza do gesto ou o curso de hipnose.
Mas eles nunca mais se separaram.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Presente

Peço a gentileza de devolver ao céu
Esse azul que seus olhos roubaram
Para fazer charme às meninas
Porque eu adoro um dia de sol
Fico triste quando ele amanhece cinza

Por isso, atenda meu pedido
Já que hoje é seu aniversário
Em troca, brinco de fazer poesia
Só pra te alegrar um pouquinho
Com esse presente ao contrário

segunda-feira, 6 de abril de 2009

o escuro

o escuro é parede branca
feita concreto, tinta
o escuro não se vê, mesmo que sinta
o escuro é muro


o escuro é película
membrana intransponível
você não toca o escuro
porque o escuro é inatingível


o escuro é abismo
por onde onde só avança quem tem coragem
o escuro dá medo
mesmo que se entre nele só por vadiagem.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Números alemães

As 3496 bebedeiras.
Os 9283 tombos do wake.
Os 53294 “e aí, pode falar?”
Os 287372940482 cigarros.
Os 1726 bares do inglês.
Os 6.000 “é curintia, mano”.
As 4027 dancinhas ridículas.
E até aquele cd roubado..

não vão embora, mesmo que você vá.

Se cuida.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Essa história de blog é uma bosta.
Geral acha que é escritor, só porque é redator.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Hai-Kai de outono

Hai-kai de outono
as letras caem
iguais às folhas

terça-feira, 17 de março de 2009

Homeopatia

Poema curtinho
Pra você ler sem nem perder tempo
Poema simplesinho
Rápido, fresco, uma rajada de vento

Poema pontual, dose de homeopatia
Para você ler, se inspirar
Para te trazer mais alegria.

segunda-feira, 16 de março de 2009

No fim

Sozinho.
No fim, todo mundo fica sozinho.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Laranjeiras

Numa letra, que niguém deve ligar muito, a gente ouve o cantor gritando a palavra do título. Bonito. Nas Laranjeiras, vive a mulher que ele ama e que o perdeu. Mas o bonito mesmo é o backing vocal esperneando a mesma palavra. É muito sofrido. Dá a impressão de que ele, copiosamente, chora toda vez que passa pelo bairro. Ou que nem passa mais por lá, para não dar vexame. Acontece. Eu também fico mal quando ando em meio à Perdizes. E olha que chorar por Perdizes é bem menos romântico que chorar por um pomar de árvores frondosas, cheirosas, laranjas: Laranjeiras.

Harvest moon

Na lua mais cheia do ano
Eu olho para o alto a te escrever de novo
Na lua mais cheia que existe
Eu luto contra o vento, que insiste em deixar meu rosto triste


Na lua completa e colorida
Eu penso em você dançando
E na dor dos seus passos, em partida
Eu só penso até quando


E na lua lá no alto, estupro no céu
Eu não entendo como pode ser
Você aí, eu longe
Os dois, quem sabe, vivendo o mesmo féu.


Mas essa lua é a da colheita
Lua brilhante, harvest moon
É nela que eu me inspiro para te escrever mais ainda
É ela que me faz escrever o último verso, só mais um.

Piegas

O que é ser piegas?
Demonstrar o amor?
Não esconder a dor?
Já sei! Fazer rimas fáceis, que acabam em “or”…


Piegas é chorar quando ouve uma musiquinha,
torcer pelo beijo do arrependido na mocinha.
Falar sozinho, escrever poeminha
Chamar a mulher que ama de rainha?


Piegas é só ter um assunto
Achar que tudo gira em torno de si
Sonhar acordado e
se pegar cantando qualquer do-ré-mi


Piegas é achar que o mundo caiu
Quando a amada foi embora
E ao perceber que o coracão partiu
Beber até perder a hora.


Se piegas é ser assim,
Prazer, piegas sou eu,
que rimo coisas bobas
Na esperança, piegas, de ter você pra mim.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

E aí

E aí você me convidou pra uma cerveja no bar que eu confundi com nome de produtora. E aí, você entrou na minha vida de um jeito nada brando, balançando esses cabelos de franja e abrindo sua bocona num sorriso insuportável enquanto me sinucava uma jogada atrás da outra.
E aí, você passou a fazer parte dos meus dias, como o uísque fazia parte das minhas noites. E aí eu me vi apaixonado por uma mulher, uma flor, uma ingrata que roubou todo meu amor de todas as mulheres, pra depois descobrir que não sabe o que fazer com ele. E aí, eu me vi perdido, idolatrando uma flor que nunca finda porque pra ela é eterna primavera, porque pra ela é sempre hora de espalhar perfume de gengibre e provocar brilho nos olhos dos outros, com tanta cor nas suas pétalas. E aí, eu pergunto o que vai ser de mim se perder essa flor pra sempre. E aí, eu lembro dos 100.000 momentos mágicos que essa flor me trouxe. E aí, eu caio no desespero, porque lembrar de certas coisas é mais difícil que tentar repeti-las. E aí, eu me desespero mais um pouco porque ‘as vezes você não me atende, logo depois de ter dito que ama as poesias que faço para você. E aí, eu entro nessa ciranda eterna, nessa iminência de não te ter, mas ter, de um jeito esquisito, oblíquo que eu nunca tinha vivido antes. É claro, porque nunca ninguém no mundo viveu amor desse antes. E aí, eu desato a escrever um textão enorme que vai te dar preguiça de ler, porque eu sei que você não tem tempo e as vezes é meio manhosa. E aí, eu concluo que vou escrever mesmo assim, mesmo que você não chegue até o final destas palavras porque, afinal de contas, eu te amo.
E aí, eu acho que tenho que te contar tudo isso.
eu avisto você sem nem estar te olhando

é que sua imagem não sai das minhas retinas,

culpa do seu cheiro, uma das minhas sinas


eu sinto você mesmo a quilômetros de distância

porque levo você onde for

porque, desafiando o tempo, te adoro desde minha infância.


é, desde pequena você é meu amor



eu ando chutando pedras

com a esperança de que elas encontrem seus pés

mesmo que só esbarrem no seu calcanhar

mesmo que te acertem de viés




eu perco horas de sono, só pra ficar sonhando acordado

só para continuar te olhando

mesmo você não estando ao meu lado.




eu entro em decadência, toda vez que lembro de você

porque é quando descubro que a dor que mais dói

é a dor de não te ter.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Tudo

Eu arrisco, meu bem,
escrever as frases mais lindas,
Para ter o prazer de ver você sorrir
aquele seu sorriso mágico, que nunca finda.



Eu devo, mulher,
Te construir um castelo
Com muro altos, dragão na ponte
E um sol iluminando, bem amarelo.



Eu cuido, flor.
De você a vida inteira,
Para nunca te fazer triste,
Para a gente viver a relação mais verdadeira.



Eu adoro, amor,
Ver você acordar todos os dias,
Cabelo desarrumado, ritmo preguiçoso,
Louca pra me contar seus sonhos, minhas alegrias.



Eu vivo, enfim, bonita,
A te contar tudo o que eu preparo
Para convencer você de que é tudo verdade.
De que o nosso amor é daquele bem raro.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sei lá

Eu não sei de onde vem
Essa vontade tão grande
De embrulhar você pra mim
De ter como mulher, amiga, amante.


Eu não sei onde chega
amor tao profundo
De um vento, redemoinho,
Que vem e vai, e vai ganhando o mundo.


Eu não sei porque eu me preocupo
tanto com você.
É verdade, você justifica meus dias
Mas isso não quer dizer que não viva sem te ter


Eu só sei que seu soslaio
Não sai das minhas vistas.
Que mesmo cansadas, imprecisas
São tão minhas, quanto são minhas conquistas.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

linhas

Preciso escrever algumas linhas,
nem que elas sejam tortas.
Eu tenho que mostrar minha vontades,
porque sei que as suas não estão mortas.


É que eu não sei calar com tanta vastidão
Não sei silenciar com tal prenúncio
Diante da possibilidade de tão linda canção,
preciso escrever, fazendo meu anúncio.


Por isso, preciso escrever algumas linhas
Porque sem você não escrevo para mais ninguém
Porque só com você tudo clareia
Só com você, tudo fica bem.


Sim, eu preciso escrever mais algumas linhas,
nem que elas continuem imperfeitas.
Porque eu sei que são tortas,
mas por você, meu bem, elas vão ser aceitas.


Então, aí vão suas imprecisas linhas
Que dizem tanto o quanto te quero,
Que são tão suas quanto minhas.
Que vão te abrir um sorriso, eu espero.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ninguém, nunca, tanto

Ninguém, nunca, tanto
Tinha derrubado em minha frente
Tamanha beleza,
Vinda com tanto pranto.



Ninguém, nunca, tanto
Me fez sorrir, chorar, sonhar
Só de ver olhos inchados
Mais marejados que o mar.



Ninguém, nunca, tanto
Me deu tudo o que eu tenho,
Mesmo dando nada,
Mesmo só me pedindo empenho.



Ninguém, nunca, tanto
Demonstrou fio de esperança tão forte
Com todos os riscos que um fio enfrenta
Com todo abuso da sorte.



Por isso, ninguém, nunca, tanto
Me fez amar assim.
Com tanta sinceridade
Como um bobo bobo, um velho arlequim.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Escrevo sobre você até esgotar.
Até esgotarem as palavras, os gestos,
até esgotar o sentido.
Escrevo sobre você porque respeito as letras
porque tenho amor ao posto
e desamor ao que não vale a pena.
Escrevo sobre você até esgotar qualquer limite do aceitável.
Até acabarem as horas, até irem embora os últimos da festa.
Escrevo sobre você porque quero, porque não quero e por tudo o que faz a vida ser essa ciranda.
Escrevo sobre você até esgotar o que for.
Mesmo que demore, que seja impraticável, que não precise.
Escrevo sobre você até esgotar o esgotamento.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

I was looking for a good life

Eu ouço uma música que dá vontade de escrever, mesmo que ela não lembre ninguém (escrever, pra mim, é basicamente lembrar de algo).
Baby, It´s a good life, diz o refrão.
Mentira. A não ser que faça parte de uma letra otimista, a vida só é boa às vezes.
Nessa história, o cara encontra uma namorada nova. E ele, que estava todo caído, volta a ver graça até em congestionamento, como diria um escritor barato.
Parece mais do mesmo, mas não. A música começa com um assoviozinho que te ganha mais rápido que sorriso de canto de boca. E aí, é igual qualquer conquista: nos minutos seguintes, a letra só administra.
Acho que é isso. Enquanto o sortudo da letra ganha uma namorada nova, a gente ganha um assovio conquistador. Mesmo que seja por poucos segundos, baby it´s a good life.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

austríaco

Tenho um cachecol perene no carro.
Colorido, austríaco, pronto a ser enrolado.
Agora, o que me faz manter tal acessório, vivendo no sul do mundo?
Resignação.
Vai que um dia esfria e eu preciso.
Deve ser assim a vida. Melhor estar preparado para as suas voltas.
Vai que um dia ela te exige um cachecol.

Bicho estranho

A saudade é bicho estranho.
Vem quando está com fome,
Desaparece quando está com sede.
Volta quando bebeu demais.

Saudade, por que és tão inconstante?
Não seria mais fácil avisar o dia e hora em que chegas?

Assim, me preparava melhor para ti.
Te curtiria aos montes, esvaziaria a minha alma com toda dedicação.

Assim, aos sopetões, não ajudas.
E já que não colaboras, também não hei de colaborar contigo.

Me esqueça. Pelo menos até que você bata em você mesma.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

a gente

A gente se encontra
e parece que os sonhos já não são iguais.

E a gente se sorri, não sei se por medo, educação
ou por receio do jamais.

A gente se entreolha e os assuntos se atropelam.

A gente chega perto um do outro e o que se aproxima
são nossas faces rosadas de calor,
afinal, é do encontro delas que vive a nossa distância.

E, então, a gente se separa, porque afinal de contas, continua separado.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Poente posto, meu amor novo.
Amor por mim, amor sem rosto.
Novo.
De novo, sou eu comigo só.
Poente posto, nariz pra cima, sem dó.

Poente posto, o que me espera?
Se posto por mim, outra vez amor.
Será agora, será na primavera.

Poente posto, lua lá em cima.
eu volto a olhar para ela
e outra vez a sentir o clima:
calor gostoso.
Como devia ser e já não era.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Põe poente nesse poema
Termina logo esse texto.
Acaba logo essa palavra.
Enfia esse ponto no final.


Senão, a história não termina.
E sem fim, nenhuma história é verdadeira.
Põe poente nesse poema,
muda a direção e vai escrever uma crônica.


Assassina de uma vez a expressão.
Você está proibido de mais um verso.
Que essa redação já está enorme
e você sabe bem que ninguém tem paciência pra ler tanto.


Põe poente nesse poema.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

00

Participa de mim.
Nem que por meio segundo,
passa feito bala de festim.


Mareja minha vista,
mesmo que suas ondas sejam gordas,
mesmo que você não seja grande conquista.


Entra aqui dentro,
com medo da chuva ou não.
Não importa se tem vento ou se tem trovão.


Não vai, simplifica.
Olha mais um pouco.
Vai que você gosta e fica.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Espetáculo

Já fazia 12 horas em pé
e nada o convencia.
De que era hora de descansar até...
até que chegasse outro dia.


Não adiantou súplica nem pedido,
dali ele não saía.
Mesmo exposto, desprotegido,
ali era seu lugar, ali lhe pertencia.


Era o sol que só brilhava
e da noite esquecia.
Queria chamar atenção daquela moça
que se queimava e não percebia.


Até que a lua deu fim
à travessura que o sol fazia.
Entrou na sua frente, feito festim.
Fez parecer que o sol se escondia.


A moça furiosa olhou pra cima,
assustada, taquicardia.
Mas se maravilhou com o espetáculo
Que o sol, sem querer, a proporcionaria.


Era um eclipse, que beleza,
ela falou, em gritaria
E o sol feliz se convenceu
Que a moça era dele, que alegria.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

mar

Porque no seu nome tem mar, você é tão errante.
Porque no seu nome tem mar, você vive indo embora, como um marinheiro que abandona a terra por uns trocados.
Porque no seu nome tem mar, você me causa tanta ressaca.
Porque todos falam mar quando te chamam, você atende sempre com um sorriso doce de uma santa das águas.
Porque no seu nome tem mar eu não sei se vou ter você de novo. Porque as ondas do mar ninguém controla.
Nem eu, que naveguei tanto em você.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Tua

Minha dor era tua,
minha melancolia também.
Era a falta de uma resposta crua.
De saber que você quer, mas não vem.


Minha memória era tua.
Mesmo com meus pensamentos além.
É que eles viajaram, saíram à rua,
para ver se encontravam outro alguém.


Minha sombra era tua.
Como as outras coisas que só você tem.
Mas o sol teimou em virar lua.
E a sombra se aninhou, feito neném.


E agora, de quem é minha lembrança?
É tua, meu bem.
É certo, ela não te amansa.
Mas ainda assim ela é tua: tua e de mais ninguém.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Da teimosia

Sinto falta do teu abraço,
sinto falta da tua mão.
Quero de novo dividir teu espaço
e você está proibida de dizer não.


Saudade do teu cheiro
e isso me causa dor.
Quero tudo de novo.
E que seja agora, e que seja como for.


Sou assim e não mudo.
Não arredo o pé de você.
Se você acha isso absurdo
é porque ainda não aprendeu o que é querer.


Porque você é minha inspiração.
É o que me fez sofrer.
Você é o que move minhas horas
e sem minhas horas não quero viver.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Deixa

Deixa eu te fazer um carinho raro.
Deixa eu entrar no teu terreiro.
Mesmo que seja um gesto cada vez mais caro.
Um gesto cada vez menos corriqueiro.


Deixa eu te olhar com melancolia.
Deixa eu te tirar do papel.
Pra você sair da poesia.
Pra você entrar no meu céu.


Deixa eu te abraçar bem forte.
Deixa eu arrancar teu sorriso.
Para eu achar que tenho a sorte.
De habitar com você o teu paraíso.


Deixa eu exaltar a tua beleza.
E fingir que ela ainda cruza meu caminho.
Para que minha lembrança não morra de tristeza.
Para que meu peito não fique mais sozinho.


Deixa eu te olhar pela última vez.
E perceber que nada disso é verdade.
Que tudo entre a gente foi sordidez.
Que foi tudo fruto da nossa vaidade.


Deixa eu ir embora
E esquecer tudo o que foi.
Deixa, já está na hora.
De olhar seu pássaro e permitir que ele voe.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Eu vou

Eu vou te escrever uma serenata
Vou tirar meus versos do papel
E você vai me ouvir, sua ingrata.
Nem que você more lá no céu.


Eu vou contratar um bandoleiro
Colocar meu chapéu
E gritar que é de mim que você gosta
E gosta a granel.


Depois eu vou escalar as janelas
E invadir seu quarto
Vou arrombar sua porta
E você vai me ouvir, mesmo que torta.


E aí você vai perceber que também é minha
Que a solidão é coisa idiota
Que um sem o outro é errar a rota.


Que sem você, não sou eu
Que você sem mim, bem, você se deu mal.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

31

Não queria te encontrar, mas encontrei.
Não queria te amar de novo.
E, de novo, amei.

Não queria mostrar minhas fraquezas,
Mas errei.

Na vontade louca de te mostrar superioridade,
falhei.

Mas o que podia fazer?
Era você:
meu sonho, meu pesadelo,
minha rainha sem rei.

Pronto, não te procuro mais.
Mas isso eu não posso garantir, eu sei.

Afinal, não queria te encontrar, mas…